featured image

Flávia Ghelardi explores how prayer helps us orient our desires to align with what God wants for us.


Flávia Ghelardi writes from Brazil in English and Portuguese. Vá para a versão em português.

 

The human being is driven by desire. We live on small desires, small hopes: to buy a car, to pass a contest, to change jobs, to find a boyfriend, to dye our hair, to move house, to eat candy. From the time we wake up until the time we go to bed, we spend our day with several wishes.

We also know that no matter how much we desire something material, like a child who wants to get a toy, or a woman who dreams of shoes, or a man with a new car, as soon as we get the object of our desire, the excitement soon wears off and that thing doesn't seem so important anymore. Our mind starts to look for something else to desire, in the hope of satisfying a longing that we feel in our hearts but can't quite explain what it is.

 

null

 

St. Augustine expresses in this sentence what we all feel: "restless is our heart until it rests in You." Each of us has a desire for the infinite, for the transcendent, which is the desire for God. When each of us was created, the Father placed this desire in our soul to go through life seeking Him, for only He can satiate that desire when we are in eternity.

The problem is that if we don't identify that the only thing that will really satisfy us is God, we spend our lives trying to satisfy that desire with lesser things and we will live in frustration. All frustration comes from an unfulfilled desire. We need to be aware that in this world we will have provisional satisfactions, and this is life. Full satisfaction and complete happiness, only when we are in Heaven.

But what must we do then to one day be in Heaven? The answer is simple: desire! Since we are driven by desire, if we really desire Heaven, we will do everything possible to see that desire come true. And not only us, but God also wants us to be in Heaven one day, after all that is why we were created, so He will send us all the graces to make our desire come true.

When we desire Heaven with all our strength, we experience peace. No matter how turbulent our life is, no matter how many trials and sufferings we go through, our heart is at peace. To desire God, Heaven, we must want it, and to want it we need prayer. Prayer helps us not to get lost in the midst of other desires that distract our soul.

To pray is to talk to God, to seek a relationship with Him. There are several forms of prayer: vocal prayer (Our Father, Hail Mary, novenas, pre-formulated prayers or spontaneous prayers); liturgical prayer (Holy Mass, Liturgy of the Hours) and meditative prayer (mental prayer/Catholic meditation). All these types of prayer are valid and should be done, but to deepen our relationship with the Father and to be able to better orient our desires, meditative prayer is the best way.

In this form of prayer, we place ourselves before God and reflect on some previously chosen matter, such as a Bible passage, a passage from a spiritual book, or an event in our life. In this reflection we place ourselves in God's presence and try to see what He expects from us, what He asks from us with what we reflect. We also try to see the ways and situations in which He shows His love for each one of us.

The most important thing is that prayer is sincere. Before God, to ask: "Lord, what do you want of me?” To be before God is to be before our conscience, which is the voice of God in our soul. Awakening and deepening our desire for God will help us to live in a way that is pleasing to the Father so that one day we can satisfy this desire in Heaven, where we have a place that has been prepared for us with infinite love.

 

null

 

I close with a prayer from St. Thomas More that summarizes what our desires should be:

Give me the grace, Good Lord, to set the world at naught. To set the mind firmly on You and not to hang upon the words of men’s mouths. (…). Little by little utterly to cast off the world and rid my mind of all its business. (…) Gladly to be thinking of God, piteously to call for His help. To lean into the comfort of God. Busily to labor to love Him. To know my own vileness and wretchedness. To humble myself under the mighty hand of God. To bewail my sins and, for the purging of them, patiently to suffer adversity. Gladly to bear my purgatory here. To be joyful in tribulations. To walk the narrow way that leads to life. To have the last thing in remembrance. To have ever before my eyes my death that is ever at hand. To make death no stranger to me. To foresee and consider the everlasting fire of Hell. To pray for pardon before the judge comes. To have continually in mind the passion that Christ suffered for me. For His benefits unceasingly to give Him thanks. To buy the time again that I have lost. To abstain from vain conversations. To shun foolish mirth and gladness. To cut off unnecessary recreations. Of worldly substance, friends, liberty, life and all, to set the loss at naught, for the winning of Christ. To think my worst enemies my best friends, for the brethren of Joseph could never have done him so much good with their love and favour as they did him with their malice and hatred. These minds are more to be desired of every man than all the treasures of all the princes and kings, Christian and heathen, were it gathered and laid together all in one heap. Amen.

Click to tweet:
To be before God is to be before our conscience, which is the voice of God in our soul. #catholicmom

O Desejo é a Chave para o Céu

O ser humano é movido pelo desejo. Vivemos de pequenos desejos, pequenas esperanças: comprar um carro, passar num concurso, mudar de emprego, arranjar um namorado, pintar o cabelo, mudar de casa, comer um doce. Desde a hora que acordamos até a hora de dormir, passamos nosso dia com vários desejos.

Sabemos também que por mais que se deseje uma coisa material, como a criança que quer ganhar um brinquedo, ou a mulher que sonha com um sapato ou um homem com um carro novo, assim que conseguimos o objeto do nosso desejo, logo a empolgação passa e aquela coisa não parece mais tão importante. Nossa mente passa a procurar outra coisa para desejar, na esperança de saciar um anseio que sentimos em nossos corações, mas não sabemos explicar direito do que se trata.

Sto. Agostinho expressa nesta frase o que todos sentimos: “inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Ti.” Cada um de nós tem um desejo pelo infinito, pelo transcendente, que é o desejo por Deus. Quando cada um de nós foi criado, o Pai colocou esse desejo em nossa alma para passarmos pela vida buscando a Ele, pois só Ele poderá saciar esse desejo quando estivermos na eternidade.

O problema é que se não identificamos que a única coisa que irá realmente nos satisfazer é Deus, passamos a vida tentando saciar esse desejo com coisas menores e viveremos frustrados. Toda frustração vem de um desejo não satisfeito. Precisamos nos conscientizar que nesse mundo teremos satisfações provisórias e assim é a vida. Satisfação plena e felicidade completa, só quando estivermos no Céu.

Mas o que devemos fazer então para um dia estarmos no Céu? A resposta é simples: desejar! Como somos movidos pelo desejo, se realmente desejarmos o Céu, faremos todo o possível para ver esse desejo realizado. E não só nós, mas Deus também deseja que estejamos um dia no Céu, afinal foi para isso que fomos criados, então Ele nos enviará todas as graças para realizarmos o nosso desejo.

Quando desejamos o Céu com todas as nossas forças, experimentamos a paz. Por mais turbulenta que esteja nossa vida, por mais provações e sofrimentos que passamos, nosso coração está em paz. Para desejar a Deus, ao Céu, é preciso querer e para querer é preciso oração. A oração nos ajuda a não nos perdermos em meio aos outros desejos que distraem nossa alma.

Orar é conversar com Deus, é buscar um relacionamento com Ele. Existem várias formas de oração: a oração vocal (pai nosso, ave maria, novenas, orações previamente formuladas ou orações espontâneas, etc); a oração litúrgica (Santa Missa, liturgia das horas) e a oração meditativa (oração mental/meditação católica). Todos esses tipos de oração são válidas e devem ser feitas, mas para aprofundar nosso relacionamento com o Pai e conseguir orientar melhor nossos desejos, a melhor forma é a oração meditativa.

Nessa forma de oração nos colocamos diante de Deus e refletimos sobre alguma matéria previamente escolhida, como uma passagem bíblica, um trecho de um livro de espiritualidade ou um acontecimento de nossa vida. Nessa reflexão nos colocamos na presença de Deus e tentamos enxergar o que Ele espera de nós, o que nos pede com aquilo que refletimos. Também buscamos enxergar as formas e a situações em que Ele demonstra seu amor por cada um de nós.

O mais importante é que a oração seja sincera. Diante de Deus, perguntar: “Senhor, o que queres de mim”? Estar diante de Deus é estar diante da nossa consciência, que é a voz de Deus em nossa alma. Despertar e aprofundar nosso desejo de Deus vai nos ajudar a viver de uma forma agradável ao Pai para que um dia possamos saciar esse desejo no Céu, onde temos um lugar que nos foi preparado com um amor infinito.

Encerro com uma oração de S. Thomas More que resume quais devem ser nossos desejos:

Dai-me a graça, meu Senhor, para ter o mundo em nada. Para ter a minha mente bem unida a Vós, e não depender das censuras dos outros. (...) Para que, pouco a pouco, me desprenda por inteiro do mundo e liberte a minha mente de todas as suas idas e vindas. (...) Para que pense em Deus com alegria e implore ternamente Sua ajuda. Para que me apoie na fortaleza de Deus e me esforce com empenho para amá-l’O. Para que conheça minha própria miséria e vileza e para que me humilhe sob a Mão poderosa de Deus. Para que deplore os pecados de minha vida e, para purificá-los, sofra, com paciência, a adversidade. Para carregar, com alegria, o meu purgatório na terra e para alegra-me nas tribulações. Para percorrer o caminho estreito que conduz à vida e para levar a Cruz de Cristo. Para ter presente as verdades sobre os novíssimos [morte, juízo, purgatório, inferno, céu]. Para ter, diante de meus olhos, minha morte, cada vez mais próxima. Para não fazer da morte uma figura estranha e para vislumbrar e pensar sobre o fogo eterno do inferno. Para pedir perdão antes que o Juiz chegue e para ter sempre presente a paixão que Cristo sofreu por mim. Para dar-lhe graças, sem cessar pelos seus benefícios e para redimir o tempo que perdi. Para evitar as inúteis conversas, para fugir de toda alegria frívola e tola. Para cortar toda recreação desnecessária e para ganhar Cristo, e, para isso, ter em nada de nada a perda da fortuna, dos amigos, da liberdade, da vida, de tudo. Para ter meus piores inimigos como meus melhores amigos, pois os irmãos de José [os filhos de Jacó] nunca lhe teriam feito tanto bem com fizeram com seu ódio e maldade [Gn 37-50]. Disposições como esta deveriam ser mais desejadas pelas pessoas do que todos os tesouros de todos os príncipes e reis, tanto cristãos como pagãos, se pudessem ser reunidos todos juntos num montão. Amem”.


Copyright 2022 Flávia Ghelardi
Images: